Abrigando o maior porto da América Latina e um enorme complexo industrial próximos da maior cidade e maior mercado produtor/consumidor do Brasil, a Região Metropolitana da Baixada Santista sofre o bônus e o ônus desse contexto singular. O Observatório das Metrópoles promove o lançamento do e-book “Baixada Santista: transformações na ordem urbana” no qual apresenta uma retrato complexo dessa metrópole litorânea. Na última década, por exemplo, a RMBS se consolidou como um território essencialmente terciário e urbano decorrente do crescimento do Porto de Santos e do turismo de veraneio; e viu a elitização da cidade-polo (Santos) expulsar moradores pobres e parte da classe média para outros municípios.

O e-book “Baixada Santista: transformações na ordem urbana” está dividido em quatro partes temáticas: I) O Processo de Metropolização; II) Dimensão Socioespacial da Exclusão/Integração; III) Governança Urbana, Cidadania e Gestão da Região Metropolitana; e IV) Meio Ambiente, Território e Lutas Sociais, e subdividido em 14 capítulos, nos quais foram analisadas as dinâmicas e trajetórias dos aspectos determinantes da configuração histórica, socioterritorial, econômica, política e cultural da RMBS, que é composta por nove municípios, a saber: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente.

De acordo com a professora Marinez Villela Macedo Brandão, uma das organizadoras da publicação, os quatorze capítulos do e-book apresentam análises interligadas, possibilitando identificar como o crescimento econômico regional da Baixada Santista tem se apresentado de forma bastante desigual.

“Se, por um lado, os reflexos das últimas décadas foram sentidos no avanço sustentado pelo mercado interno, na expansão do emprego formal, na distribuição da renda e na inclusão social; por outro, também foram percebidos pela dissociação entre progresso material e urbanização em determinantes relacionados a questões como mobilidade urbana, aumento da violência e ineficiência das políticas públicas, especialmente nas áreas da saúde, educação e do transporte”, argumenta a professora.

Mudanças na RM da Baixada Santista

Mas quais as principais mudanças no território metropolitano da Baixada Santista? Quais processos foram verificados, especialmente, no período 2000-2010?

De acordo com o estudo, a RMBS está sofrendo forte influência do mercado imobiliário e do poder da especulação — principalmente em Santos — devido à expectativa da instalação da cadeia produtiva de exploração e produção de petróleo e gás natural na Bacia de Santos após a descoberta da camada Pré-Sal, com sede administrativa da Petrobrás.

“Essa dinâmica, que já vem desde o final dos anos 1990, intensificou a implantação de empreendimentos de luxo, a verticalização e o chamado boom imobiliário, e todas as distorções perversas em termos de gentrificação e elitização de áreas que beneficiaram apenas uma pequena parcela da população e levaram à exclusão de parte da classe média — sobretudo famílias jovens que não conseguem adquirir o primeiro imóvel — e da população de baixa renda, que se deslocaram em direção à periferia, resultado da ausência de um planejamento prévio com diretrizes para esse tipo de crescimento”, aponta Marinez Brandão.

Outras dinâmicas igualmente chamaram a atenção no contexto de reestruturação produtiva em nível regional, como os reflexos da privatização da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa); as mudanças nas relações de trabalho, na estrutura e no funcionamento do Complexo Industrial de Cubatão e do Porto de Santos; e a crescente demanda do setor de serviços, principalmente turístico-balneário nas altas temporadas — atualmente, em direção ao Litoral Sul, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.

O resultado dessas tendências no território da RMBS é mostrado em suas múltiplas contradições, nas diferentes abordagens temáticas. Segundo Marinez V. Brandão, a Baixada Santista acompanha a tendência mundial das metrópoles no processo de polarização social, de aumento da pobreza e de profundas mudanças na estrutura ocupacional; mostrando uma dualização cultural, econômica e política também manifestada nos espaços. “Há aqueles espaços ocupados pelos grupos formados por uma caracterização econômica e ocupacional no centro dos interesses econômicos; em outros, uma periferia desorganizada ocupando espaços sem infraestrutura adequada, com dificuldades de superar situações cotidianas básicas e que permitam avançar na superação da situação de pobreza em que se encontram”.

Para download do e-book, acesse “BAIXADA SANTISTA: transformações na ordem urbana“.