Neste depoimento, Marinez Brandão, Maria Graciela Morell e André Rocha Santos mostram que o e-book “Baixada Santista: transformações na ordem urbana” traz uma contribuição fundamental para a compreensão da metrópole litorânea paulista, buscando elucidar as principais transformações macroeconômicas, macrossociais e macropolíticas neste início de século XXI. Segundo os organizadores, o processo de metropolização da RMBS é marcado pelo crescimento econômico, porém com ampliação da desigualdade social.

Marinez Brandão, Maria Graciela Morell e André Rocha Santos são os editores do e-book “Baixada Santista: transformações na ordem urbana”; o depoimento a seguir faz parte das ações de difusão da Coleção “Metrópoles: transformações na ordem urbana” que a Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles tem articulado com o propósito de ampliar o debate metropolitano e subsidiar, no contexto do novo Estatuto das Metrópoles, a implementação efetiva de instrumentos de governança metropolitana.

Por que vale a pena ler “Baixada Santista: transformações na ordem urbana”?

O livro Baixada Santista: transformações na ordem urbana reuniu um grupo de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento como sociólogos, economistas, demógrafos, advogados, biólogos, assistentes sociais, cientistas políticos e outros que buscaram contribuir com suas visões particulares para uma compreensão geral da Região Metropolitana em suas características e especificidades.

A centralidade da obra foi o estudo da Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) referente ao projeto de análise comparativa das metrópoles na ordem urbana brasileira entre 1980 e 2010. Os artigos aqui reunidos contaram com a colaboração de professores e pesquisadores que buscaram contribuir para o objetivo fundamental do Observatório das Metrópoles, que é o de ampliar e consolidar um programa pluri-institucional e pluridisciplinar, aliando pesquisa e ensino, promovendo atividades que possam influenciar as decisões dos atores que intervêm no campo da política pública, tanto na esfera do governo, quanto da sociedade civil, tendo a Baixada Santista como referência.

A partir das análises — que procuraram ser criteriosas tanto na abrangência e multiplicidade de elementos que compõem a Região, quanto na profundidade e consistência do exame feito para cada um desses enfoques —, teve também como intuito proporcionar um espaço de pesquisa, debate e intervenção pública sobre a RMBS, buscando elucidar as principais transformações macroeconômicas, macrossociais e macropolíticas neste início de século XXI.

Abrigando o maior porto da América Latina, um enorme complexo industrial e uma grande quantidade de praias muito próximas da maior cidade do país (e maior mercado consumidor), a Baixada Santista sofre o bônus e o ônus desse contexto singular. Da mesma forma em que acompanha diretamente os ciclos de expansão e desenvolvimento da economia brasileira, também é atingido pelos problemas comuns das grandes metrópoles. A violência, o tráfico de drogas, o déficit habitacional, a falta de saneamento básico em certos territórios, as dificuldades relacionadas à mobilidade e ao transporte público, a poluição das águas e da mata e a destinação dos resíduos sólidos são só algumas das inúmeras questões partilhadas pela metrópole litorânea.

O desenvolvimento econômico da Região historicamente apresenta estreitas relações com o Porto de Santos e com o Complexo Industrial de Cubatão. Na última década (2000-2010) esse processo se intensificou apresentando profundas marcas de crescimento econômico centradas na ampliação e privatização do Porto e no início da operacionalização da extração de petróleo na camada Pré-Sal pela Petrobrás. Esses fatores intensificaram a dinâmica do mercado imobiliário aumentando sobremaneira o valor dos imóveis. Essa dinâmica refletiu-se em toda região, entretanto com maior intensidade em Santos e em São Vicente, pela proximidade com a cidade polo. Com isso, o expressivo aumento do valor dos imóveis estendeu-se a aluguéis de alto valor que, consequentemente, remeteu a um efeito cascata no custo de vida provocando uma modificação profunda no território e uma expulsão da população dos municípios centrais para outros municípios da região, principalmente Praia Grande que teve o maior crescimento populacional nesse período.

A partir das análises apresentadas na publicação podemos verificar a estreita relação entre trabalho/emprego e maiores índices de bem-estar urbano nos municípios centrais (Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá e Praia Grande), ou seja, o espaço de onde se centralizam as atividades ligadas à cadeia produtiva industrial e portuária e como esse índice vai caindo na medida em que essa distância aumenta. Portanto, pode-se dizer que há uma estreita relação entre um melhor índice nas proximidades das áreas com índices deste eixo econômico.

Entretanto, mesmo em Santos, município de maior crescimento econômico na última década e que mais se aproxima de características próprias de metrópole, pode-se verificar marcas dos piores índices, pois também nessa mesma área há aglomerados subnormais, ocupações em manguezais, áreas de ocupação irregular em morros, cortiços e um aumento da população em situação de rua sem domicilio fixo (Censo 2010). Na RMBS, o crescimento econômico, infelizmente, andou de mãos dadas com a desigualdade social.

Nessa perspectiva, o principal desafio dos pesquisadores do Observatório das Metrópoles foi o de captar o reflexo dessas transformações e sua intersecção com a Região Metropolitana em seu caráter local, por meio de uma análise teórico-metodológica que possibilitasse compor um quadro que retratasse as quatro principais dinâmicas que compõem as partes deste livro: o processo de metropolização, a dimensão socioespacial da exclusão/integração, a gestão da Região Metropolitana e as questões ligadas ao meio ambiente e ao território ocupado.

Portanto, o livro deve ser lido como uma investigação que se propõe a discutir criticamente aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais que poderão auxiliar todos aqueles que pretender compreender melhor a Região Metropolitana da Baixada Santista, território tão desigual capaz de encantar (mesmo os que aqui residem) por suas belezas naturais e por sua gente e, ao mesmo tempo, entristecer a todos pela sua enorme desigualdade evidenciada no contraste entre seus bairros nobres e suas favelas, seus territórios elitizados e seus bolsões de pobreza e extrema pobreza.

Marinez Brandão

Maria Graciela Morell

André Rocha Santos

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