Embora seja considerada uma cidade global, São Paulo ainda mantém, em pleno século XXI, o modelo núcleo-periferia como organizador do seu espaço metropolitano em expansão. O e-book “São Paulo: transformações na ordem urbana”, lançamento do INCT Observatório das Metrópoles, analisa as mudanças e permanências da maior metrópole brasileira no período 1980-2010 a partir de temas como estrutura socio-ocupacional, políticas habitacionais, mobilidade urbana, entre outros.

No próximo dia 22 de junho, a equipe de São Paulo do Observatório promove o lançamento local do livro “São Paulo: transformações na ordem urbana” durante o seminário “São Paulo-Metrópole: desafios para o século XXI”.

Segundo a professora Suzana Pasternak, para a produção da publicação foi formado um grupo de 17 pesquisadores, parte deles integrantes do Núcleo São Paulo do Observatório das Metrópoles e vinculados à FAU/USP e PUC-SP, além de colaboradores de outras instituições que já vinham desenvolvendo pesquisas sobre temas que seriam abordados no projeto. Nomes como Cimar Alejandro Prieto Aparício e Vagner de Carvalho Bessa, da Fundação Seade (Governo do Estado de São Paulo); Lilia Montali e Marcelo Tavares de Lima, do NEPP/UNICAMP; e Kazuo Nakano, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Dos pesquisadores vinculados ao Núcleo São Paulo, nomes como Ricardo Gaspar, Rafael Soares Serrao, João Marcus Pires Dias, Ângela Luppi Barbon, Camila D’Ottaviano, Dulce Maria Tourinho Baptista, Marisa do Espírito Santo Borin, Vera Chaia, Marcelo Barbosa Câmara e Lúcia Maria Machado Bógus (co-organizadora da publicação).

São Paulo: reestruturação produtiva (1980-2010) na metrópole global periférica

A tese central do livro sobre São Paulo é de que o modelo núcleo-periferia, caracterizado pela distância geográfica e social entre as classes, ainda organiza o espaço metropolitano em expansão, em que pese o surgimento de novas configurações espaciais, como por exemplo, condomínios fechados e aumento das favelas, além da redistribuição de unidades produtivas e centros de compra pelo tecido metropolitano.

Suzana Pasternak explica que, embora morar na periferia nos anos 2000 seja distinto dos anos 70, já que água, esgoto energia elétrica e coleta de lixo são praticamente universais na metrópole, o que se percebe na análise das três décadas é que os grupos sociais melhor posicionados na hierarquia social residem, sobretudo, no município polo, enquanto os municípios periféricos são classificados como populares ou operários populares. Além disso, os distritos que melhoraram sua posição estão quase todos no polo, enquanto na periferia, a proporção de distritos que caíram na hierarquia foi grande.

“Verificamos que os espaços da elite se concentram no setor sudoeste do município central, com alguns enclaves nas zonas norte e leste. Mas a mancha de óleo, a grosso modo, ainda persiste como modelo de localização das camadas sociais, na maior região metropolitana do país. Assim, embora com modificações, o modelo centro-periferia ainda consegue explicar o espaço da metrópole. O desenvolvimento das periferias de São Paulo é uma história de deslocamentos constantes, onde velhas periferias se mimetizam à áreas urbanizadas e novas periferias vão se construindo”, afirma Suzana.

Já no tocante à estrutura socio-ocupacional, o livro aponta que houve um salto no padrão de terciarização da metrópole, não refletindo mais sua base industrial. “A metrópole se terciariza, perdendo trabalhadores do secundário: a proporção de trabalhadores secundários no total de  ocupados em 1980 era de 31,32%, passando a 24,35% em 1991: perda de quase 7 pontos percentuais. Os dados da década de 90 indicam também continuidade da perda, de mais de 3 pontos percentuais, perda esta que aparentemente estanca nos anos 2000”, aponta Suzana e completa:

“Do outro lado, percebe-se aumento dos trabalhadores do terciário especializado, de 15% do total de ocupados para 19% em 2010. Outro ponto é o aumento sistemático dos profissionais de nível superior nas três décadas: aumento de 1,8 pontos percentuais na década de 80, 2,3 pontos percentuais na década de 90 e de 4,8 pontos nos anos 2000”.

Em relação à estrutura socio-ocupacional, o estudo apresenta um quadro-resumo das principais tendências no período 1980-2010:

– Elitização relativa e profissionalização, com aumento dos profissionais de nível superior e diminuição dos dirigentes;
– Terciarização, com aumento da proporção de trabalhadores do terciário;
– Diminuição dos trabalhadores do secundário, sobretudo os ligados à indústria de transformação;
– Manutenção relativa das camadas médias;
– Pequena diminuição dos trabalhadores do terciário não especializado, sobretudo após 1991.

Faça no link a seguir o download do e-book “São Paulo: transformações na ordem urbana”.