Entre 1985 e 2012, a distribuição do emprego na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) subiu de 46,4% para 59,4% no setor de serviços ao passo que o setor industrial assistiu uma queda de 41,6% naquele ano para 22,0% em 2012 e com relativa estabilidade para o setor comercial. Esses dados serviram como base para Rafael Soares Serrao e João Marcus Pires Dias, no capítulo 2 do e-book “São Paulo: transformações na ordem urbana“, ilustrarem as principais modificações observadas na estrutura produtiva da metrópole paulista em relação ao seu mercado de trabalho.
Segundo os autores, a interiorização da indústria durante os anos 1970 contribuiu diretamente para que a RMSP ampliasse não só seus espaços de circulação – devido à indústria automobilística e ao aumento da motorização da população –, mas também para que se dinamizasse como uma região de atividades econômicas heterogêneas cuja riqueza tem sido gerada primordialmente através do setor de prestação de serviços.
Tal panorama alçou a RMSP à categoria de cidade global durante os anos de 1990, sobretudo mediante terceirizações e subcontratações de atividades de apoio, que, por sua vez, fragilizaram a qualidade dos empregos incitando a aparição de setores informais modernos. Com o recuo da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) da RMSP, que, em 2010, correspondia apenas a 24,5% (16,6% menos em relação aos dados de 2000), evidenciou-se do mesmo modo uma queda no índice de emprego formal da área, passando de 41,6% em 1985 para 22,0% em 2012.
Mesmo na área do ABCDOG (compreendida pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Osasco e Guarulhos), cujo peso industrial é tradicionalmente mais alto que no município-polo e na RMSP, percebeu-se uma queda significativa na distribuição do emprego industrial entre 1985 e 2012, superada pelo emprego na área de serviços a partir de 1998. Entretanto, essa área figurou como a menos afetada quanto à notável desindustrialização metropolitana:
– No ABCDOG a redução ocorre de forma mais lenta (-9,1%), contra -23,0% em São Paulo e -16,6% na RMSP. Além disso, pelo menos segundo o PIB, em 2010 a indústria se mostrava mais importante nos municípios do ABCDOG, representando 31,9%, diante dos 20,4% de São Paulo e 24,5% da RMSP – apresentam os autores.
Por um lado, Rafael Serrao e João Marcus Dias assinalam que o ABCDOG concentra uma série de indústrias químicas e metalúrgicas tidas como estratégicas para a estrutura produtiva metropolitana, garantindo empregos de maior qualidade nessa área, em parte, também, graças à ação sindical. Por outro, a disparidade entre a qualidade dos empregos nesse setor e no de prestação de serviços, atualmente preponderante na metrópole paulista, vem se acentuando nas últimas duas décadas.
Essa questão, de acordo com os autores, problematiza os impactos das desigualdades socioespaciais frente à população ocupada, especialmente a menos qualificada, no mercado de trabalho da RMSP, que, mesmo seguindo seu curso de sofisticação, também contribui substancialmente para a precarização das relações laborais na metrópole mais rica do país.
Acesse na íntegra o capítulo “A metrópole de São Paulo na transição econômica: estrutura produtiva e mercado de trabalho”, de Rafael Soares Serrao e João Marcus Pires Dias, contido no e-book São Paulo: transformações na ordem urbana.