O livro “Salvador: transformações na ordem urbana” discute os impactos do chamado “efeito território” na metrópole baiana a partir da relação entre trabalho, escolaridade e estrutura social. O resultado aponta que a RM de Salvador continua segregada e segmentada segundo as diferentes condições sociais dos indivíduos. Os indicadores educacionais da RMS, por exemplo, permanecem precários: de acordo com o Censo 2010, 320 mil jovens de 15 a 24 anos não frequentavam escolas (mais de 50% dos jovens da metrópole).

De acordo com Cláudia Monteiro Fernandes, pesquisadora do Núcleo Salvador do Observatório das Metrópoles, o estudo sobre “efeito território” buscou verificar a relação entre educação/escolaridade, fragilidade ocupacional (trabalho) e a relação onde as pessoas moram. “O livro ‘Salvador: transformações na ordem urbana’ aponta na maior parte das análises que Salvador vem reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e as desigualdades que se conformaram historicamente no seu território. Ao analisar o ‘efeito-território’ queríamos comprovar essa hipótese, sobretudo vinculando às condições sociais e de infraestrutura dos vários espaços da metrópole”, explica Cláudia.

Os resultados confirmam que Salvador continua uma metrópole pobre, periférica e marginal. Em relação aos indicadores educacionais, a pesquisa avaliou se os jovens estudam em escola pública ou privada; a performance (frequência escolar e atraso escolar); e a condição escolar dos responsáveis pelo domicílio (chefe da família).

Os indicadores de atraso e abandono escolar mostram que mais de 70% das crianças e adolescentes de 7 a 15 anos que frequentavam escola na RMS em 2010 tinham atraso de, pelo menos, um ano, e cerca da metade, de dois anos. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar frequentando o ensino médio, o abandono escolar foi estimado em 14,5%, sendo um pouco maior nos municípios da periferia da metrópole (15,6% do total de jovens nessa faixa etária).

Já a situação de atraso escolar, de 1 ou de 2 anos, das crianças e adolescentes de 7 a 15 anos também está menos presente nas áreas médio-superiores (orla marítima e bairros “nobres” tradicionais), mas sua frequência é maior no subúrbio ferroviário e em bairros como Nordeste de Amaralina, Itapuã e São Cristóvão, assim como nos municípios da periferia da metrópole.

Em relação à distribuição dos domicílios cujos responsáveis tinham pouca ou nenhuma instrução concentrava-se, principalmente, nas áreas populares da metrópole, com exceção da área de Itapuã, mais litorânea. O subúrbio ferroviário e o miolo da RMS concentravam a maior parte de domicílios com essa característica. Em contraste, os domicílios cujos responsáveis tinham nível superior completo localizavam-se nas áreas de tipo médio-superior, na faixa litorânea, em bairros como a Barra, a Graça e a Pituba, seguindo pela orla marítima.

Entre as pessoas responsáveis pelos domicílios 37,7% não tinham instrução, ou mesmo o nível fundamental concluído, e apenas 11,9% tinham nível superior completo em 2010.

A proporção de responsáveis por domicílios que podem ser considerados analfabetos funcionais sobe nos municípios fora de Salvador para 48,5%, quase metade. E apenas 5,4% tinham nível superior completo. A taxa de desemprego chegava a 13,8% na RMS, atingindo 16,1% nos municípios da periferia. E as pessoas ocupadas, consideradas em situação de fragilidade ocupacional, são mais de um terço do total de ocupados na metrópole (34,4%), sendo que, em Salvador, são 33,5% dos ocupados em fragilidade ocupacional e, nos demais municípios da RMS, 37,2%.

“Esses indicadores mais gerais confirmam que o município-polo, ainda que com indicadores pouco melhores que os demais, provê, em média, melhores condições ocupacionais para os responsáveis por domicílios, justificando, em parte, sua grande atratividade em relação à periferia da metrópole e mesmo ao interior do Estado da Bahia, mas com desigualdades marcantes em sua estrutura social e espacial interna”, afirma Cláudia Fernandes.

Para acessar a análise “Organização do território e desigualdades sociais na Região Metropolitana de Salvador”, faça o download do e-book “Salvador: transformações na ordem urbana”.