A equipe do Núcleo Salvador do INCT Observatório das Metrópoles promoveu, no dia 23 de março, o lançamento local do livro “Salvador: transformações na ordem urbana”. O evento, realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), contou com a participação do reitor da UFBA João Salles, e mais representantes do Ministério Público e Promotoria de Justiça da Bahia, e nomes importantes da Arquitetura e Urbanismo do estado. Segundo Gilberto Corso Pereira, a expectativa é que a publicação possa instrumentalizar movimentos sociais e planejadores urbanos no debate sobre o futuro da região metropolitana de Salvador.

O Seminário “Transformações Urbanas: a trajetória de Salvador”, organizado pelos professores Inaiá Moreira de Carvalho e Gilberto Corso Pereira (e mais a equipe do Núcleo Salvador do INCT Observatório das Metrópoles), teve como objetivo debater os rumos da metrópole da baiana à luz dos resultados do livro “Salvador: transformações na ordem urbana” que percorre o período 1980-2010, a partir de temas como metropolização, demografia, mercado de trabalho, mobilidade urbana, habitação, entre outros.

O evento contou com a presença de João Salles, Reitor da Universidade Federal da Bahia; a Procuradora de Justiça, Hortência Pinho; o antropólogo Ordep Serra; o arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo (ex-presidente do IAB-BA); Ana Fernandes (FAU/UFBA); Naia Alban Suarez (FAUFBA); Luiz Antônio Cardoso (PPGAU); e Alvino Sanches (CRH). E mais os autores do livro, nomes como Ângela Maria de Carvalho Borges; Barbara-Christine Nentwig Silva; Claudia Monteiro Fernandes; José Ribeiro Soares Guimarães; Juan Pedro Moreno Delgado; Maina Pirajá Silva e Sylvio Bandeira de Mello e Silva.

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Mesa de debate sobre o livro

 

 

 

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O arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo

 

Sobre os principais resultados do livro “Salvador: transformações na ordem urbana”, a professora Inaiá Moreira de Carvalho aponta, por exemplo, que em relação à estrutura produtiva e ao panorama ocupacional, a metrópole baiana continua pobre, segregada, com uma inserção periférica no quesito força de trabalho no país.

“É verdade que, a partir de 2004, o emprego tem crescido, com um avanço em termos de sua formalização. As taxas de desemprego caíram, o peso dos ocupados por conta própria e dos trabalhadores sem carteira assinada recuou, a remuneração dos trabalhadores experimentou certa recuperação, e a proporção de moradores pobres e indigentes também se reduziu. Mas, ainda assim, as referidas taxas ainda representam quase o dobro da média nacional, elevando-se ainda mais fora do núcleo metropolitano e entre as mulheres, os negros, os jovens e aqueles menos escolarizados”, argumenta Inaiá e completa:

“A maioria dos ocupados se encontra vinculado a atividades que não se destacam pela geração de postos de qualidade, como o comércio, os serviços tradicionais e a construção civil. A metrópole de Salvador se mantém como um espaço de baixas remunerações, com 70,9% dos trabalhadores percebendo até dois e apenas 10% acima de cinco salários mínimos. A precariedade ocupacional se mantém bastante expressiva na região, assim como os níveis de pobreza e de indigência da população”.

Já em relação à estrutura urbana, segundo o professor Gilberto Corso Pereira, a RM de Salvador vem sendo afetada, nos últimos anos, por mudanças que têm se mostrado comuns às grandes metrópoles e a outras cidades do Brasil e da América Latina. Entre essas mudanças, destacam-se: uma expansão para as bordas e para o periurbano, assim como o esvaziamento, a decadência ou a gentrificação de antigas áreas centrais; a edificação de equipamentos de grande impacto na estruturação do espaço urbano; e a difusão de novos padrões habitacionais e inversões imobiliárias destinadas aos grupos de alta e média renda, com a proliferação de condomínios verticais ou horizontais fechados, que ampliam a autossegregação dos ricos, a fragmentação e as desigualdades urbanas, assim como revelam uma afirmação crescente da lógica do capital na produção e reprodução das cidades.

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“No seu conjunto, as mudanças e os processos vêm reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e segmentação e as desigualdades que se conformaram historicamente na metrópole de Salvador”, explica Gilberto Corso e acrescenta:

“Vemos que a produção capitalista e empresarial da habitação é segmentada em termos sociais e espaciais, orientando-se, basicamente, para as camadas de maior renda. Dos antigos bairros de classe alta e média, comuns nas grandes cidades brasileiras, passou-se à produção atual de megacondomínios verticais e horizontais, com seus aparatos de separação e distanciamento, os quais, além de propiciar uma homogeneidade social, impedem a porosidade urbana e asseguram que qualquer mistura social só poderá acontecer fora de suas fronteiras”, explica.

Nesse sentido, as formas recentes de produção da moradia e do espaço urbano em Salvador mostram uma ampliação da fragmentação socioespacial da metrópole, agora se expressando na forma de enclaves de diversas naturezas que caracterizam o atual espaço construído.

Outro destaque do livro é o tema da mobilidade urbana. O capítulo VII “Organização Social do Território e Mobilidade Urbana” aponta que a metrópole de Salvador vive um colapso de mobilidade. “Os tempos de viagem estão se tornando cada vez maiores para quem transita em Salvador; isso acontece porque as políticas de transporte e mobilidade se voltam para o veículo individual e não para os pedestres e para o transporte público”, argumenta.

Segundo ainda Corso, a precária mobilidade urbana de Salvador penaliza todos os moradores, mas o faz especialmente para aqueles mais pobres e residentes em áreas periféricas, pois, enquanto os domicílios que são ponto de partida das viagens se dispersam espacialmente, a distribuição dos serviços e das oportunidades de trabalho está cada vez mais concentrada.
Para download do livro, acesse o seguinte link “SALVADOR: transformações na ordem urbana”